Thursday, September 28, 2006
Wednesday, September 20, 2006
Sunday, September 17, 2006
Muito menos isto
A circular diz que "não se podem excluir, no território nacional, que se verifiquem manifestações de desacordo, assim como ações violentas", como as registradas em alguns países islâmicos, acrescenta a fonte.
Isto não é um título
Palavras soltas ou acorrentadas mentiras verdades cinema abstração literatura música comentários absortos fotografia eu poesia sem fama links talvez um pouco de sarcasmo mas bem pouco quem sabe um pouco de lirismo e pieguice cultura vírgulas
Friday, September 15, 2006
Resgate

Flores para Isabela
Já não era como antes. Ela não tinha este olhar escorregadio, nem estes gestos vazios de
sentimento. Era sutil. De poucas, mas bonitas palavras. Indiferente, nunca foi.
Isabela?
Ãhm?
Onde você perdeu a vida?
Já não era como antes. Ela não tinha este olhar escorregadio, nem estes gestos vazios de
sentimento. Era sutil. De poucas, mas bonitas palavras. Indiferente, nunca foi.
Isabela?
Ãhm?
Onde você perdeu a vida?
* * *
Quando Ana e Carlos deixaram o hospital com Isabela nos braços, chovia e fazia muito frio. Era o dia que pede conforto, nas palavras de Ana.
Ela adorava dias assim. E realmente sabia sentir a chuva. Era como se cada pingo d’água que tocasse o chão fosse um fragmento seu. Todos eles juntos faziam Ana. Ana sorridente, tranqüila. Ana ruiva. Seus olhos, azuis.
Carlos gostava de capuccino. Era artista plástico e bem alto. Cabelos encaracolados e sobrancelhas expressivas. Sabia usar as cores como ninguém.
- Ela é perfeitinha! Pena que não tem meus olhos!
Ana ri.
- Tomara é que não tenha a sua teimosia!
Isabela foi a convergência de sonhos e risadas. De duas vidas que se cuidavam. De noites apaixonadas e planos milimétricos. Teve uma infância perfeita. Fotos, passeios ao zoológico, tombos de bicicleta, dentinhos que caem e crescem novamente, amigos e bonecas.
- Isabela, molhe somente as flores vermelhas!
Treze anos. Bonecas, só para enfeite. Passeios ao shopping. Cabelos encaracolados e muito compridos. Isabela adorava ficar observando as pessoas. Todas tinham algo que fugia a seus olhares, muito interior, muito íntimo. Algo que se esconde ao menor sinal de fragilidade.
- Todos são assim... Quanto de mim é estranho aos outros?
Quinze anos e dois meses. Isabela alta, saia xadrez, vento frio. Primeiro beijo. Filosofia e poesia. Perguntas sem resposta.
- Você é Isabela? São para você. Mandaram entregar.
- São de quem?
- Tem um envelope entre as rosas.
Dezesseis anos. Uma Isabela decidida. Poesia, Belle and Sebastian e Kundera. Porta do quarto fechada. Telefonemas na madrugada. Chuva fina. Palavras doces. Eu sei que vou te amar.
- O pai não vem jantar em casa outra vez?
- Não. Está trabalhando em uma encomenda. Disse que vai chegar tarde.
Ana sem sono. A televisão sempre faz o tempo passar mais rápido. Sofá confortável. Carlos ausente. Ontem cinco minutos; hoje dez e mais um jantar. Isabela em sono sereno. Respiração silenciosa. Ana abatida.
- Chegou tarde ontem
- ...
- Estava no atelier?
- Trabalho lá, não?
- Só perguntei...
Isabela quieta. Algo estranho no ar, sublimado entre olhares que não se cruzam.
- Mais café, minha filha?
- Não... Já acabei
Flores murchas no vaso sobre a mesa. Ana distante. Isabela observadora. Carlos irritado. Manhã chuvosa. Ana de aniversário. Carlos esquecido. Isabela troca as flores do vaso, e compra um presente para Ana. Carlos não aparece.
- Pai, você não vem?
Noite carregada. Isabela vai encontrar Carlos no atelier. Portas trancadas. Luz acesa. Vozes agitadas. Um olhar através da vidraça desvenda os desencontros.
- Carlos, você tem que falar com sua mulher
- Tenho que ter um tempo, você sabe disso!
- Mas tem que ser logo, eu não gosto dessa situação.
- Eu vou falar na hora certa, e ainda não é agora. Olha o que eu trouxe para você!
- Que lindas...
Isabela volta para casa. Ana desfragmentada. Isabela vai até o jardim. Flores cortadas. Ana chora ao telefone. Isabela vai para seu quarto. Refúgio. Silêncio.
- Isabela, você costumava molhar o jardim. Ele está secando
- Eu sei, mãe...
Ela adorava dias assim. E realmente sabia sentir a chuva. Era como se cada pingo d’água que tocasse o chão fosse um fragmento seu. Todos eles juntos faziam Ana. Ana sorridente, tranqüila. Ana ruiva. Seus olhos, azuis.
Carlos gostava de capuccino. Era artista plástico e bem alto. Cabelos encaracolados e sobrancelhas expressivas. Sabia usar as cores como ninguém.
- Ela é perfeitinha! Pena que não tem meus olhos!
Ana ri.
- Tomara é que não tenha a sua teimosia!
Isabela foi a convergência de sonhos e risadas. De duas vidas que se cuidavam. De noites apaixonadas e planos milimétricos. Teve uma infância perfeita. Fotos, passeios ao zoológico, tombos de bicicleta, dentinhos que caem e crescem novamente, amigos e bonecas.
- Isabela, molhe somente as flores vermelhas!
Treze anos. Bonecas, só para enfeite. Passeios ao shopping. Cabelos encaracolados e muito compridos. Isabela adorava ficar observando as pessoas. Todas tinham algo que fugia a seus olhares, muito interior, muito íntimo. Algo que se esconde ao menor sinal de fragilidade.
- Todos são assim... Quanto de mim é estranho aos outros?
Quinze anos e dois meses. Isabela alta, saia xadrez, vento frio. Primeiro beijo. Filosofia e poesia. Perguntas sem resposta.
- Você é Isabela? São para você. Mandaram entregar.
- São de quem?
- Tem um envelope entre as rosas.
Dezesseis anos. Uma Isabela decidida. Poesia, Belle and Sebastian e Kundera. Porta do quarto fechada. Telefonemas na madrugada. Chuva fina. Palavras doces. Eu sei que vou te amar.
- O pai não vem jantar em casa outra vez?
- Não. Está trabalhando em uma encomenda. Disse que vai chegar tarde.
Ana sem sono. A televisão sempre faz o tempo passar mais rápido. Sofá confortável. Carlos ausente. Ontem cinco minutos; hoje dez e mais um jantar. Isabela em sono sereno. Respiração silenciosa. Ana abatida.
- Chegou tarde ontem
- ...
- Estava no atelier?
- Trabalho lá, não?
- Só perguntei...
Isabela quieta. Algo estranho no ar, sublimado entre olhares que não se cruzam.
- Mais café, minha filha?
- Não... Já acabei
Flores murchas no vaso sobre a mesa. Ana distante. Isabela observadora. Carlos irritado. Manhã chuvosa. Ana de aniversário. Carlos esquecido. Isabela troca as flores do vaso, e compra um presente para Ana. Carlos não aparece.
- Pai, você não vem?
Noite carregada. Isabela vai encontrar Carlos no atelier. Portas trancadas. Luz acesa. Vozes agitadas. Um olhar através da vidraça desvenda os desencontros.
- Carlos, você tem que falar com sua mulher
- Tenho que ter um tempo, você sabe disso!
- Mas tem que ser logo, eu não gosto dessa situação.
- Eu vou falar na hora certa, e ainda não é agora. Olha o que eu trouxe para você!
- Que lindas...
Isabela volta para casa. Ana desfragmentada. Isabela vai até o jardim. Flores cortadas. Ana chora ao telefone. Isabela vai para seu quarto. Refúgio. Silêncio.
- Isabela, você costumava molhar o jardim. Ele está secando
- Eu sei, mãe...
Wednesday, September 13, 2006
Tuesday, September 12, 2006
Uma síntese da minha trajetória como caricaturista, ilustrador e autor." Assim o premiado artista chileno Gonzalo Cárcamo define a mostra Trayectos, em cartaz no Museu do Trabalho (Andradas, 230) de terças a domingos, das 13h30min às 18h30min, com entrada franca.
A exposição reúne cerca de cem trabalhos entre pinturas em aquarela, desenhos e caricaturas publicadas na imprensa, refazendo a trajetória de Cárcamo - que começou com a publicação de caricaturas no semanário Pasquim em 1986. À época, o artista vivia na Bahia e encontrava dificuldades em conseguir trabalho. Depois de enviar uma carta para o cartunista Jaguar, teve suas primeiras caricaturas estampadas nas páginas do Pasquim e não parou mais.
- A partir desse momento tomei um vínculo sério e definitivo com a minha profissão - explica Cárcamo.
A vinda de Cárcamo a Porto Alegre também serviu para que o artista lançasse aqui no Estado seu livro O Amigo Fiel, adaptação ilustrada e escrita por ele com base em um conto de Oscar Wilde. Na história, um moleiro egoísta oferece a um ingênuo jardineiro um carrinho de mão em mal estado e, cobrando a todo momento retribuição por essa "oferta generosa", obriga o amigo a fazer pesados serviços para ele. Ao desenhar a fábula, Cárcamo usou bichos da fauna brasileira no lugar dos personagens principais: uma capivara como o jardineiro e uma queixada como o moleiro. O artista diz que pensou em adaptar a história desde a primeira vez que a leu, há 20 anos, e achou que o momento atual da política e da sociedade brasileiras era o ideal para que o livro fosse lançado.
Radicado no Brasil desde 1976, o artista trabalhou durante muito tempo como cenarista de desenhos animados, chegando a participar em pequenos curtas para os estúdios Disney. As obras expostas partem das primeiras experiências de Cárcamo como caricaturista profissional e fazem um tour pelos traços do artista até os dias de hoje. Atualmente, o chileno trabalha como ilustrador no jornal Folha de S. Paulo e na revista Época.
O QUE: exposição Trayectos, com obras de Gonzalo Cárcamo
QUANDO: de terças a domingos, das 13h30 às 18h30min, até 8 de outubro
ONDE: no Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230, em Porto Alegre, fone 51 3227-5196)
QUANTO: entrada franca
A exposição reúne cerca de cem trabalhos entre pinturas em aquarela, desenhos e caricaturas publicadas na imprensa, refazendo a trajetória de Cárcamo - que começou com a publicação de caricaturas no semanário Pasquim em 1986. À época, o artista vivia na Bahia e encontrava dificuldades em conseguir trabalho. Depois de enviar uma carta para o cartunista Jaguar, teve suas primeiras caricaturas estampadas nas páginas do Pasquim e não parou mais.
- A partir desse momento tomei um vínculo sério e definitivo com a minha profissão - explica Cárcamo.
A vinda de Cárcamo a Porto Alegre também serviu para que o artista lançasse aqui no Estado seu livro O Amigo Fiel, adaptação ilustrada e escrita por ele com base em um conto de Oscar Wilde. Na história, um moleiro egoísta oferece a um ingênuo jardineiro um carrinho de mão em mal estado e, cobrando a todo momento retribuição por essa "oferta generosa", obriga o amigo a fazer pesados serviços para ele. Ao desenhar a fábula, Cárcamo usou bichos da fauna brasileira no lugar dos personagens principais: uma capivara como o jardineiro e uma queixada como o moleiro. O artista diz que pensou em adaptar a história desde a primeira vez que a leu, há 20 anos, e achou que o momento atual da política e da sociedade brasileiras era o ideal para que o livro fosse lançado.
Radicado no Brasil desde 1976, o artista trabalhou durante muito tempo como cenarista de desenhos animados, chegando a participar em pequenos curtas para os estúdios Disney. As obras expostas partem das primeiras experiências de Cárcamo como caricaturista profissional e fazem um tour pelos traços do artista até os dias de hoje. Atualmente, o chileno trabalha como ilustrador no jornal Folha de S. Paulo e na revista Época.
O QUE: exposição Trayectos, com obras de Gonzalo Cárcamo
QUANDO: de terças a domingos, das 13h30 às 18h30min, até 8 de outubro
ONDE: no Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230, em Porto Alegre, fone 51 3227-5196)
QUANTO: entrada franca